"Eduquei os dois da mesma maneira: com um resultou, com o outro não".
Trabalhei numa banca de jornais há mais de 20 anos. De vez em quando, recebia a visita de uma mãe cujo filho mais velho era toxicodependente. Ele era arrumador de carros na zona onde eu trabalhava. Uns dias, conseguia fazer o trabalho a que se propôs na perfeição, com motivação e com a assertividade que a função exige; outros, mal conseguia manter-se de pé. Por vezes, ao sábado de manhã, ajudava-me a encadernar os 557 suplementos do Jornal Expresso sem eu lhe pedir, à espera de uma moeda no final, claro. Nunca me meteu medo - nem ele, nem os outros que por lá andavam a disputar os melhores lugares e os condutores menos avarentos - nunca exigiu dinheiro. Chegou a pedir-me dinheiro, sem qualquer tom ameaçador, para comer. Eu sabia que, mesmo pagando o pequeno almoço no café em frente, estava a contribuir para a droga; desta forma, o dinheiro que receberia de seguida, em vez de ser para o pequeno almoço, seria para algo que a ele lhe fazia mais falta. Ainda assim, acho que nunca consegui negar-lhe comida.
A mãe dele, muito raramente, aparecia na banca de jornais com o filho mais novo. Este filho era bom aluno, amigo da mãe, tranquilo, sem comportamentos desviantes (seja lá o que isso quer dizer). Quando não encontrava o filho mais velho, deixava comigo comida e produtos de higiene para lhos entregar. Conversávamos um pouco e ela dizia-me quase sempre o mesmo "Eduquei os dois da mesma maneira: com um resultou, com o outro não". Há mais de 20 anos, eu tentava consolá-la, ser empática e solidária com o seu desabafo. Não tinha argumento para a constatação que ela apresentava: se ela educou os dois da mesma maneira, porque é que com um resultou e com o outro não?
Hoje dir-lhe-ia: Talvez o problema tenha sido esse; eles devem ser muito diferentes, o que resulta com um, certamente, não resulta com o outro. Como é que podiam ser educados da mesma maneira? Ou então, calava-me, porque a verdade é que só sei que (a este nível) nada sei. E uma grande teoria hoje pode tornar-se num fiasco amanhã.
A mãe dele, muito raramente, aparecia na banca de jornais com o filho mais novo. Este filho era bom aluno, amigo da mãe, tranquilo, sem comportamentos desviantes (seja lá o que isso quer dizer). Quando não encontrava o filho mais velho, deixava comigo comida e produtos de higiene para lhos entregar. Conversávamos um pouco e ela dizia-me quase sempre o mesmo "Eduquei os dois da mesma maneira: com um resultou, com o outro não". Há mais de 20 anos, eu tentava consolá-la, ser empática e solidária com o seu desabafo. Não tinha argumento para a constatação que ela apresentava: se ela educou os dois da mesma maneira, porque é que com um resultou e com o outro não?
Hoje dir-lhe-ia: Talvez o problema tenha sido esse; eles devem ser muito diferentes, o que resulta com um, certamente, não resulta com o outro. Como é que podiam ser educados da mesma maneira? Ou então, calava-me, porque a verdade é que só sei que (a este nível) nada sei. E uma grande teoria hoje pode tornar-se num fiasco amanhã.
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