De manhã quando me tento despachar como qualquer mortal, é quase garantido que surge uma pessoa pequenina a pedir-me colo, a dizer que quer ficar comigo, a pedir para me deitar novamente. Depois do aconchego de um colo, de um abraço apertado e de alguns mimos trocados, chega a hora de lhe dizer que tenho de voltar ao que estava prestes a iniciar. Já percebi que se este ritual não for tranquilo, a Sra. Birra dá o ar de sua graça. É preferível "perder" - a verdade é que todos ganhamos - uns minutos num acordar assim do que enfrentar a terrível e não desejável Excelentíssima Senhora. Numa destas manhãs veio atrelado um pedido para ler um livro, um livro pequenino - retorquiu ele perante o meu "não posso, filho". Cedi e o livro que ele tirou da prateleira foi "Sou o maior" de Lucy Cousins, da Editora Caminho.
Foi uma prenda de aniversário. Não o temos lido muitas vezes, mas transmite uma belíssima mensagem.
Um cão que é o maior: faz buracos mais depressa e mais compridos do que o ganso, nada mais depressa do que o burro, é maior do que a Joaninha... Em todas as comparações que faz, ele é o MAIOR!
Então e se baralharmos isto e trocarmos as comparações: será que nada melhor do que o ganso? será que é maior do que o burro? voará mais do que a Joaninha? fará buracos mais depressa e mais compridos do que a toupeira? Pois é, parece que é tudo uma questão de perspetiva, parece que depende de com quem é feita a comparação. O cão lá chega à conclusão de que está a ser um grande exibicionista e pede desculpa aos amigos... Mas no final da história será que o cão é o maior em alguma coisa?
Filho, um dia, quando te deparares de forma mais consciente com as diferenças entre o que tu és e o que os outros são, não te preocupes, nada temas, não te intimides com as constatações. Foca-te no que gostas, no que queres alcançar, no que queres ser, define como o queres fazer e segue em frente, de preferência sem grandes comparações (haverá sempre algumas), sem te exibires, sem te desvalorizares. Não tentes contrariar a tua essência e nem entres em jogos competitivos excessivos: serás sempre maior do que uns numas coisas e menor do que outros noutras; serás sempre capaz de fazer umas coisas e incapaz de fazer outras. É mesmo assim. Às vezes "querer ser" ou "querer fazer" é poder; outras não - mentiria se dissesse o contrário. É claro que o "querer ser" ou o "querer fazer" é meio caminho andado para alcançares algo, mas às vezes não chega. Às vezes as coisas não correm bem à primeira, mas quando tentas novamente superas-te. Lembra-te que a frustração faz parte da vida, é bom que a sintas (não a ignores), mas não é mais do que isso: uma frustração, um "não sou capaz", um "não consegui", um "sou pior nisto". Esta história diz-nos que ninguém quer ser o pior, mas também nos diz que ser o pior é muito relativo.
Por fim, quero que saibas (tu sabes) que para mim és sempre o maior: o maior amor. Mas é para mim, tal como os outros filhos o são para os pais.
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