O Índio Pirata não frequenta a creche. Em princípio, ficará a tempo inteiro com a Ama até completar os 3 anos. Por este motivo, tento aproveitar algumas rotinas, algumas oportunidades que ele me dá para conversar sobre alguns temas, sobre alguns conceitos. Não é nada premeditado, mas no que diz respeito a isto, sou uma oportunista, aproveito (quase) todas as oportunidades.
Há 2 semanas, mais coisa menos coisa, resolveu que tinha de dormir com "vários elementos do Reino Animal" (eu incluída), dos quais destaco os cavalos, o panda, o macaco, a zebra e a Girafa Sofia. Expliquei-lhe que tínhamos de ter cuidado, que tínhamos de os colocar num sítio estratégico para ele não se magoar durante a noite. "Porquê?", foi a pergunta imediata; já passámos a idade do "O qué ito?", agora estamos na dos porquês. Disse-lhe que alguns dos animais são duros, podem magoá-lo, logo, convém que não durmam na almofada dele; já a girafa Sofia, que é mole, não magoa, pode dormir na almofada. Instiguei-o a apertar os vários animais, a Girafa Sofia, a almofada, etc. E assim, fomos identificando os objetos duros e os objetos moles (às vezes ele dizia que eram fofinhos e/ou macios). Isto não é nada de especial, mas aproveitei-me de uma situação que surgiu espontaneamente e ele alinhou. Ele correspondeu às minhas instigações porque o assunto lhe interessou; afinal, os animais são dele, ele precisa de saber porque é que não pode dormir com todos na almofada, porque é que tem de excluir alguns. É uma aprendizagem que tem significado para ele, na medida em que responde a uma pergunta que ele colocou: Porquê?
Se eu chegasse a casa um dia destes e lhe dissesse "vamos lá aprender a distinguir duro de mole/macio/fofinho", ele, certamente, olharia para mim, franzia o sobrolho e perguntava-me "Porquê?" e/ou "Para quê?". Muitas vezes, em contexto escolar, é o que acontece. Falam-se de coisas que não têm qualquer interesse para a criança; algumas das vezes nem se suscita qualquer interesse na criança (não se cria a oportunidade de a criança questionar); debita-se a informação e muda-se de página sem qualquer fio condutor. Mas em algumas escolas, com alguns professores, fazem-se coisas muito bem feitas. Eu tive oportunidade de presenciar algumas.
Imagem retirada da internet
Nesta imagem estão alguns dos seres candidatos a dormir, lado a lado, com a minha pessoa. É muita pressão.A semana passada, aproveitando uma ida às compras e a arrumação das mesmas - ele gosta muito de "ajudar" nesta última tarefa - fizemos torres de latas/embalagens iguais; agrupámos alimentos de acordo com a "espécie"; identificámos os maiores e os mais pequenos. Fluiu naturalmente, porque ele quer mexer nas coisas e porque lhe disse "então, se queres ajudar a mãe e o pai a arrumar as compras, vamos lá separá-las".
Anteontem, pegou numa colher e começou a bater no banco. Perguntei-lhe se estava a tocar bateria. Respondeu que sim. Sugeri então que jogássemos à "bateria/stop" (jogo inventado por mim naquele momento). Disse-lhe: Quando eu disser bateria, tocas bateria; quando eu disser Stop, tu paras. Confesso que esta última foi para evitar o conflito de lhe tirar a colher, e para, gradualmente, acabar com aquela batida. Resultou e eu ainda me diverti ao ouvi-lo rir à gargalhada.
Ontem, ouvimos músicas e dançamos, porque há coisas que só se aprendem ouvindo, cantando e dançando. Há coisas que só se aprendem experimentando. Let's dance.
O ser humano prioriza fazer aquilo que para ele tem mais sentido (Perrenoud, Sentido do trabalho e trabalho do sentido na escola, 1995), logo, é conveniente que os interesses das crianças sejam respeitados.
Em jeito de conclusão, ao meu filho fez-lhe sentido: perceber que alguns dos animais não podem dormir na almofada porque são duros e, consequentemente, podem magoá-lo; agrupar os alimentos de acordo com o critério da igualdade, porque queria ajudar a arrumá-los; jogar ao "bateria/stop", porque já que estava a bater com a colher no banco, acrescentar a vertente de jogo foi uma mais valia e uma diversão.
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