segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Teorias Pantomineiras

Há frases feitas que não compreendo, que não concordo e que me irritam. 

- Ter só um filho é quase o mesmo que não ter nenhum. 
Só podem estar a gozar: então todo o amor que se sente, as mudanças que sofremos, o prazer e a alegria que nos engrandece, a ocitocina que nos fortalece, o trabalho que temos, o coração que não reconhece limites de velocidade, a ansiedade de dar um abraço àquele filho único que se tem ao final do dia, a angústia que sentimos quando a dor que ele vai sentir ainda não lhe chegou, aquele acordar um segundo antes de ele se engasgar, o amor, porra, aquele amor inesgotável e incomparável não significa nada? Ter ou não ter é quase o mesmo? Como assim?

- Ter um filho ou ter dois é a mesma coisa.
Só tenho um, mas não me enganam. Uma mãe com mais do que um filho já me contou toda a verdade, quebrou esse pacto pantomineiro que algumas de vocês, mães de dois ou mais filhos, estabeleceram. Porque é que nos dizem isto?
Acordar durante a noite por um 5 vezes ou por dois 10 vezes é igual? Pagar creche para um ou para dois é a mesma coisa? Sair de casa com um ou com dois dá o mesmo trabalho? Comprar roupa para um ou para dois não altera o orçamento familiar em nada? Nem se dá pelo facto de termos em casa o dobro do número atual de birras, pois não? E as despesas de saúde (ainda que se contemplem apenas as consultas de rotina, vacinas, etc.)? E a disponibilidade que se tem para um é inalterável com a chegada do segundo? Nem vou falar da vida do casal, ainda estou a ver se sobrevivemos à existência de um filho... Sim, eu sei que o amor de um filho a dobrar deve ser do caraças. E eu gostava mesmo de ter um segundo filho (já desisti da ideia de ter 3, que tivesse sido mãe mais cedo). Mas, sejamos sinceros, nunca mais será a mesma coisa. Tenho cá para mim que não será a mesma coisa nem é suposto que seja. Talvez o problema seja o conceito de "quase o mesmo", "a mesma coisa", "quase igual"... Ou então, é só mesmo para nos enganarem.

Quando o miúdo nasceu, embriagada pelo amor e pelas hormonas, queria ter outro assim que fosse possível. Agora, ando de ano para ano a reestabelecer limites, com dúvidas, com mentalizações de que posso muito bem ficar-me por um. Quando me dizem que o segundo é mais fácil, que já sei ao que vou, penso: é mesmo por saber ao que vou que não me parece que seja mais fácil.

2 comentários:

  1. Não é para te desanimar mas estou sempre a dizer que, para mim e para nós enquanto casal, o salto de um para dois foi muito mais gigantesco do que de zero para um. Nunca me identifiquei com aquela máxima de que no segundo fica tudo muito mais fácil precisamente porque é tudo a dobrar. Podes ter menos dúvidas nisto ou naquilo pela experiência que adquiriste mas isso não anula o acréscimo de trabalho de se ter duas crianças, sobretudo em idades muito próximas mas ainda assim com necessidades distintas. Mas também não te vou mentir: agradeço todos os dias a surpresa que foi ter um segundo filho, já que planeado e racionalizado sei que dificilmente daria esse passo. É que os afectos, o amor, a alegria, é também a dobrar. E a sensação de vê-los juntos a brincar é assim uma coisa inexplicável.

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  2. Obrigada pela partilha. Como dizes, planeado e racionalizado, não sei se vou ao segundo. Mas acredito que ter e ver dois filhos a crescer seja uma sensação inexplicável. A parte pior é que sinto que tenho um prazo para decidir. Resta-me acreditar que o que decidirmos será o melhor para nós.

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