No outro dia, falava com alguém sobre outro alguém bem mais velho do que nós que tem Alzheimer. Já ouvi e falei sobre isto várias vezes, mas não de forma aprofundada. Naquele dia, não sei porquê, senti um aperto no peito ao falar daquela senhora velha (que nem sequer conheço) que não se lembra do passado, que não reconhece os filhos, que é vazia de recordações. Pensei em voz alta na aflição que deve ser ter aquela doença. Perante estes pensamentos, a pessoa com quem dialogava respondeu: Ela não sofre, ela não se lembra.
Esta resposta só me inquietou ainda mais. Ela não sofre. Ela não tem saudades de quem não se lembra. Não guarda mágoa de quem a magoou. Não sente falta do que a sua mente não recorda. Então, o que é que ela é? Uma pessoa sem passado? Um DVD sem nenhum filme para ver? Uma máquina fotográfica sem cartão de memória? Um livro sem história, feito de páginas em branco? E o que é que vai recordar nos últimos minutos de vida? E para onde foram as vitórias que alcançou e as dificuldades que enfrentou que, para ela, nem uma miragem são? E a vida? E a vida que ela teve? E o amor? Ela lembrar-se-á do que é o amor? E guardará amizade por alguém?
O facto de não reconhecer os filhos e não sorrir pelo maior amor que se pode sentir foi, sem dúvida, o que mais me inquietou. Não é de ser velho que se tem medo, é das outras coisas.
O facto de não reconhecer os filhos e não sorrir pelo maior amor que se pode sentir foi, sem dúvida, o que mais me inquietou. Não é de ser velho que se tem medo, é das outras coisas.
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