sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Pessoas que me inspiram #1 - Decisões acertadas

Conheço duas pessoas, mulheres, que partilham a profissão e o facto de me inspirarem com decisões que tomaram em relação à Educação dos filhos.

A primeira, conheci-a quando a filha frequentava o 1º ciclo do Ensino Básico. Desde cedo ouvi os relatos das dificuldades que a filha demonstrava ter na escola; a falta de concentração; as notas dos testes que eram baixas; as explicações que a filha teve de ter desde cedo, entre outras. Quando a filha terminou o terceiro ciclo, a solução encontrada pela mãe foi a de mudar a filha para uma Escola Profissional. Foi uma opção refletida, com pesquisas efetuadas, tendo em consideração as áreas de interesse da filha. Muitas vozes se levantaram contra esta decisão: "Vais agora meter a miúda numa escola profissional"; "não terá as mesmas oportunidades"; "isso é uma mudança terrível", blá blá blá. Ela manteve a sua decisão, convicta de que estava a fazer o melhor para a filha. Ela conhecia bem a filha, tinha consciência de que a miúda teria muitas dificuldades em realizar todas as disciplinas do ensino secundário. Deu-se a mudança. A filha adorou a experiência. Fez estágios muito bons. Fez um estágio em Barcelona. Terminou o 12º ano. Fez um CET. Seguiu para a Universidade. Frequenta a licenciatura que escolheu. Tem 19 anos.

Em relação à segunda pessoa de que falo, acompanhei a sua primeira gravidez. Ouvi da sua boca os relatos menos românticos da maternidade. Foi ela que me disse que ter 1 ou 2 filhos não é a mesma coisa, como tantos apregoam; que a amamentação pode ser uma porcaria; que os pais podem não sentir aquele amor desmesurado pelos filhos assim que estes nascem; que a maternidade não é só maravilhas. No entanto, adora ser mãe. O filho mais velho faz anos no final de Setembro, logo, estava tudo à espera que ele entrasse no 1º ano do 1º ciclo com 5 anos (a fazer os 6, passados uns dias). Mas não. Ela decidiu que não. Conversou com a educadora sobre as perceções que tinha em relação ao filho, considerava que era muito infantil (a verdade é que com esta idade são mesmo infantis, só que uns são mais do que outros), muito imaturo, que não estava preparado para o ritmo do 1º ciclo. Em conversa e com consenso, concluíram que seria preferível entrar no ano seguinte. Ouviu muitas vozes contra a sua decisão, mas manteve-a. Tudo tem corrido bem, o filho integrou-se com facilidade, já está no 3º ano. Ela é muito interessada. Ela, não só acompanha o filho no percurso escolar, como se envolve com a escola, como procura saber mais sobre o que se passa na escola. Um dia destes falou-me de uma reunião que organizaram para debater ideias sobre as novas tecnologias, de maneira a que os pais compreendessem melhor o que se pode passar nesse imenso mundo que, para muitos, é desconhecido. Ela é atenta. É interessada. É empenhada. É presente. É participativa.

Nenhuma delas trabalha na área da Educação; nenhuma tem conhecimentos muito aprofundados sobre Pedagogia. As duas trabalham por conta própria: são excelentes profissionais e empenhadas no que fazem; gostam do que fazem, são realizadas profissionalmente; não vejo em nenhuma qualquer frustração a este nível. Não se conhecem, mas ambas, cada uma com a sua decisão assertiva, ensinaram-me que não devemos aprisionar as ideias e as certezas que vêm do coração (é a isto que chamam intuição, não é?). Para mim, são uma inspiração.

Créditos de imagem: yeruzalabrin

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A brincar é que a gente (pequena) se entende #7 - Ensaios sobre a realidade: aprendizagem com significado

O Índio Pirata não frequenta a creche. Em princípio, ficará a tempo inteiro com a Ama até completar os 3 anos. Por este motivo, tento aproveitar algumas rotinas, algumas oportunidades que ele me dá para conversar sobre alguns temas, sobre alguns conceitos. Não é nada premeditado, mas no que diz respeito a isto, sou uma oportunista, aproveito (quase) todas as oportunidades.

Há 2 semanas, mais coisa menos coisa, resolveu que tinha de dormir com "vários elementos do Reino Animal" (eu incluída), dos quais destaco os cavalos, o panda, o macaco, a zebra e a Girafa Sofia. Expliquei-lhe que tínhamos de ter cuidado, que tínhamos de os colocar num sítio estratégico para ele não se magoar durante a noite. "Porquê?", foi a pergunta imediata; já passámos a idade do "O qué ito?", agora estamos na dos porquês. Disse-lhe que alguns dos animais são duros, podem magoá-lo, logo, convém que não durmam na almofada dele; já a girafa Sofia, que é mole, não magoa, pode dormir na almofada. Instiguei-o a apertar os vários animais, a Girafa Sofia, a almofada, etc. E assim, fomos identificando os objetos duros e os objetos moles (às vezes ele dizia que eram fofinhos e/ou macios). Isto não é nada de especial, mas aproveitei-me de uma situação que surgiu espontaneamente e ele alinhou. Ele correspondeu às minhas instigações porque o assunto lhe interessou; afinal, os animais são dele, ele precisa de saber porque é que não pode dormir com todos na almofada, porque é que tem de excluir alguns. É uma aprendizagem que tem significado para ele, na medida em que responde a uma pergunta que ele colocou: Porquê?
Se eu chegasse a casa um dia destes e lhe dissesse "vamos lá aprender a distinguir duro de mole/macio/fofinho", ele, certamente, olharia para mim, franzia o sobrolho e perguntava-me "Porquê?" e/ou "Para quê?". Muitas vezes, em contexto escolar, é o que acontece. Falam-se de coisas que não têm qualquer interesse para a criança; algumas das vezes nem se suscita qualquer interesse na criança (não se cria a oportunidade de a criança questionar); debita-se a informação e muda-se de página sem qualquer fio condutor. Mas em algumas escolas, com alguns professores, fazem-se coisas muito bem feitas. Eu tive oportunidade de presenciar algumas.

Imagem retirada da internet
Nesta imagem estão alguns dos seres candidatos a dormir, lado a lado, com a minha pessoa. É muita pressão.

A semana passada, aproveitando uma ida às compras e a arrumação das mesmas - ele gosta muito de "ajudar" nesta última tarefa - fizemos torres de latas/embalagens iguais; agrupámos alimentos de acordo com a "espécie"; identificámos os maiores e os mais pequenos. Fluiu naturalmente, porque ele quer mexer nas coisas e porque lhe disse "então, se queres ajudar a mãe e o pai a arrumar as compras, vamos lá separá-las".

Anteontem, pegou numa colher e começou a bater no banco. Perguntei-lhe se estava a tocar bateria. Respondeu que sim. Sugeri então que jogássemos à "bateria/stop" (jogo inventado por mim naquele momento). Disse-lhe: Quando eu disser bateria, tocas bateria; quando eu disser Stop, tu paras. Confesso que esta última foi para evitar o conflito de lhe tirar a colher, e para, gradualmente, acabar com aquela batida. Resultou e eu ainda me diverti ao ouvi-lo rir à gargalhada.

Ontem, ouvimos músicas e dançamos, porque há coisas que só se aprendem ouvindo, cantando e dançando. Há coisas que só se aprendem experimentando. Let's dance.

O ser humano prioriza fazer aquilo que para ele tem mais sentido (Perrenoud, Sentido do trabalho e trabalho do sentido na escola, 1995), logo, é conveniente que os interesses das crianças sejam respeitados.
Em jeito de conclusão, ao meu filho fez-lhe sentido: perceber que alguns dos animais não podem dormir na almofada porque são duros e, consequentemente, podem magoá-lo; agrupar os alimentos de acordo com o critério da igualdade, porque queria ajudar a arrumá-los; jogar ao "bateria/stop", porque já que estava a bater com a colher no banco, acrescentar a vertente de jogo foi uma mais valia e uma diversão. 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O que é que eu quero que tu sejas quando fores grande?

A avaliar pelo número de vezes que oiço amigos e conhecidos dizerem que os filhos querem ser Doutores, talvez fosse politicamente correto ter uma resposta. Geralmente, as pessoas que conheço começam pela famosa pergunta "O que é que queres ser quando fores grande?"; depois, surge a resposta dada pela criança; "quero ser Doutor/médico" é a resposta mais ouvida. E eu fico aparvalhada, mas segura por não entrar nesta onda. Julgo que a criança com 2 anos não decidiu, sem influência do adulto, que quer ser Doutora.
Acredito que todos temos sonhos que, por enquanto, ainda não passaram disso mesmo; alguns, talvez nunca se concretizem. Acredito que ficaríamos felizes se os nossos filhos quisessem realizar algum desses sonhos; mais felizes ainda se os conseguissem realizar. No entanto, acredito que só seríamos verdadeiramente felizes se eles fossem felizes com as suas escolhas. A verdade é que, desde que eles realizem os seus sonhos, quer sejam diferentes ou iguais dos nossos, seremos igualmente (verdadeiramente) felizes. 
Acredito que projetamos e desejamos o melhor para os nossos filhos, no entanto não sei como é que se consegue projetar uma decisão futura (tão distante) em crianças com 1, 2, 3, 4 anos; acho até que pode prejudicar a criança em algumas situações mais exageradas, como as de pressões constantes e cobranças por parte dos pais. Talvez se tracem metas e se eduque no sentido de as cumprir, talvez se considere que isso é o melhor; talvez isso seja o melhor. Se eu não tivesse tantos sonhos e tantos objetivos ainda por realizar, talvez a minha postura fosse outra. Não sei. Juro que quero o melhor para ele, desejo que seja bem sucedido nas suas escolhas, ambiciono que seja feliz, mas não tenho, até à data, qualquer ambição profissional para o meu, ainda, bebé; e, sinceramente, espero não vir a ter. Não acho que o caminho seja por aí, apesar de ter consciência de que alguma influência terei nas suas escolhas. É esta a minha opinião. Talvez eu venha a ter perceções, tais como, "acho que ele quer ser calceteiro marítimo" ou "o miúdo de certeza que vai ser fadista numa banda de rock", mas por agora ainda não surgiram. Por agora, ainda estou a decidir o que é que eu quero ser quando for grande. Cada coisa a seu tempo.
Sei que tenho alguns sonhos por realizar; e ainda bem. O meu filho terá os dele, que podem ser tão iguais como tão diferentes dos meus. O que eu quero mesmo é afastar as cortinas da janela; abrir as portadas da vida; espreitar com ele lá para fora e ajudá-lo a observar e a descrever o que vê; quero que ele me diga o que sente e que discorde de algumas opiniões minhas (não todas, não exageremos); depois, quero abrir a janela do mundo e quero que ele sinta o ar que se sente lá fora; de seguida, peço para ser ele a guiar-me até à porta, deixo-o descobrir o percurso, deixo-o abrir a porta e fico a observar o que ele faz perante a imensidão que vê; oriento, apoio, mas promovo a independência e autonomia na tomada de decisão; por fim, e quando ele se sentir pronto, deixo-o caminhar, deixo-o ir... Isto parece ser difícil, mas é o que eu quero.
Apesar de tudo isto, acho que lhe posso perguntar o que é que ele quer ser quando for grande. Ainda não o fiz, mas um dia destes começo a fazê-lo periodicamente; depois, registo as respostas; um dia, rimo-nos delas.

Descobri um blogue em que a autora teve a ideia de fazer um poster, nos aniversários das filhas, no qual regista a opinião dos convidados e familiares acerca do que pensam que as crianças serão quando forem grandes. Adaptando esta ideia à minha, gostava de criar um único poster, com registos fotográficos de diferentes idades com as respetivas respostas que o miúdo me vai dando. Seria interessante afixar o grande cartaz com os registos na festa de aniversário dos 18 anos - se ele quiser fazer festa; e se ele me quiser nessa festa... Se, se, se.

Ver ideia original aqui

P.S. Nos próximos dias, falarei de um livro que retrata bem este texto. Comprei-o quando estava grávida.

Medos

Este texto é apenas uma reflexão sobre um dos meus medos.
Hoje, ouvi uma notícia acerca de Renato Seabra e acerca do que aconteceu no dia 7 de Janeiro de 2011. Pergunto-me: O que provocou tudo aquilo? Como é que uma mãe/um pai educa e prepara os filhos para evitar e prevenir situações como aquela ou similares? Como é que se prevê uma coisa daquelas?
Lembro-me de ter ficado muito impressionada quando ouvi as primeiras notícias sobre os acontecimentos, de fazer perguntas, de não alcançar nenhuma resposta. Mas, em Janeiro de 2011, eu não era mãe; não tinha tanto medo, apesar de ter questionado várias vezes "o que sentiria aquela mãe" .
Hoje, ouvi dizer (num comentário sobre o homicídio), com muita segurança e convicção, de que a sociedade tem que educar de forma diferente para os afetos e para a orientação sexual. Concordo, mas esta constatação não me dá garantias de nada, não aniquila os meus medos. Eu nem sei, talvez ninguém saiba, o que está na origem de tudo o que aconteceu. Foi algo relacionado com a orientação sexual? Com afetos?
Não vivo amedrontada, nem deixo que os medos que tenho condicionem a minha vida, mas tenho medos. Tenho medo que surja uma doença, tenho muito medo que a vida me tire o que de mais precioso me deu, tenho até dificuldades em verbalizar e escrever sobre estes medos (tenho medo de os atrair). E tenho medo disto, de um filho meu fazer algo muito errado... Lá está, não escrevo "medo de fazer algo igual" porque não imagino esta possibilidade; tudo o que faço é a pensar que estou a dar ferramentas ao meu filho para ele ser um bom ser humano, uma pessoa bem resolvida, com valores e convicções, com respeito por si e pelos outros (a mãe de Renato Seabra, possivelmente também o pensou). Educo-o com amor, mas sei que a possibilidade existe e é por isso que tenho medo. Também desconfio que ser uma boa ou má pessoa não é justificação para todas as boas ou más ações; existem fatores externos que não são previsíveis... Que educação lhe terá sido dada? Não sei. O que pensará/sentirá aquela mãe? Não sei. Terá falhado em alguma coisa (assim tão grave)? Não sei, possivelmente não. Poder-se-ia ter feito alguma coisa que alterasse aquele desfecho? Quem é que a deveria ter feito? Não sei. Certamente, ninguém saberá.
Tenho medo de falhar em coisas essenciais e importantes; existem diferentes formas de falhar (e, claro, todos falhamos), desde a mais básica e pouco prejudicial à mais inimaginável e destruidora. A forma de falhar a que me refiro é esta última, claro. Tenho medo porque nem tudo dependerá de mim; tenho medo porque posso não identificar tudo o que depende de mim. Talvez o facto de estar consciente de que tenho estes medos me ajude a enfrentá-los. 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Está na hora de dizer Adeus

Está na hora de dizer adeus ao Natal, não só porque os fins de semana prolongados e em família já passaram, mas também porque o menino Jesus já nasceu, o Pai Natal e o Duende Trapim regressaram à Lapónia e o dia de Reis é hoje; está na hora de desmanchar a árvore de Natal e guardar tudo na caixa, tal como me disseste anteontem; está na hora de pararmos de ler as histórias deste nosso Natal, tal como está na hora de pararmos de cantar as músicas de Natal do Youtube. Elas regressam no final deste ano. 
Está também na hora de dizermos adeus às histórias que inventámos: a da aldeia onde o Pai Natal trabalha; a da passagem do Pai Natal pela casa da avó; a história de deixarmos leite e bolinhos ao Pai Natal e aos Duendes no parapeito da janela; a da distribuição dos presentes; a história de o Pai Natal não ter conseguido passar pela nossa chaminé porque comeu muitos bolinhos (ficou com uma grande barriga) e a tia que vive na Suiça o ter ajudado - esta tia ofereceu-te a tenda/casa que montámos na sala no dia 25 de Dezembro e, sem querermos dizer que foi ela quem ta ofereceu, queríamos envolvê-la nesta surpresa; foi esta a maneira que encontrámos para o fazer.  
Está na hora de dizer Adeus ao Natal que já passou e à fantasia que encenámos. Encenámos muitas histórias, é verdade, mas foram encenadas com amor e carinho verdadeiros. E isso é que importa.
Agora, nós os três, vamos olhar para o céu e desejar uma boa viagem ao Pai Natal; vamos olhar para as estrelas e pedir todos os desejos que o nosso coração alberga; vamos viver, a três, o novo ano; vamos olhar-nos, olhar para ti e olhar para o caminho que nos espera; vamos percorrer juntos a estrada de 2016.

Créditos de imagem: Wishªcolor

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Olá Janeiro de 2016

Olá novo ano. Agora, que ainda estás no início, tens hipótese de ser um grande ano; tens hipótese de ser um ano de viragem; tens hipótese de errar, rasurar e emendar; tens hipótese de concretizar. Tu, novo ano, tens todas as hipóteses do mundo. Tu, 2016, podes ser o que quiseres. E eu também. Que sejas um ano de paz, que sejas um ano de boas mudanças - é o meu desejo.

Créditos de imagem: M.O.D