terça-feira, 11 de setembro de 2018

Cara ou coroa: um jogo de sorte ou azar

A iniciar um novo jogo, um jogo de sorte ou azar: é assim que me sinto desde que decidimos inscrevê-lo na Escola Pública.

Começa logo com o sítio onde tiveste a sorte ou o azar de comprar casa.

Passa por teres referências da escola A e/ou B. Por teres a sorte de conhecer alguém que trabalha nas ditas escolas. Por conheceres alguém cujos filhos frequentam essas mesmas escolas. Por teres referências para optares de acordo com o que valorizas.

Passa pela sorte ou pelo azar de o responsável pela distribuição das crianças pelas escolas do Agrupamento perceber o que está a fazer. Ou pelo menos ter o profissionalismo de ler o Despacho Normativo em vigor - tenho a certeza de que o responsável aqui da minha zona o leu... pelo menos parte dele, depois da minha reclamação na qual transcrevi excertos do mesmo.

Passa pela sorte de a criança ser colocada na escola que preferes, numa turma em que encontrará caras conhecidas, alguns amigos, algumas referências.

Passa pela sorte de a dita escola ter um/a bom/boa coordenador/a ou pelo azar de o/a mesmo/a ser intragável.

Passa pela sorte ou pelo azar de a escola em que o teu filho entrou ter boas ou más instalações. Boas ou más infraestruturas. Boa ou má cozinheira. Boa ou má comida.

Por fim e no topo da hierarquia, aquela variável que te faz ganhar ou perder o jogo: o/a educador/a - já sei que é uma educadora. Será boa? Será má? Estes adjetivos são redutores, mas isto é (só) um jogo. Aquele que pode ser considerado o jogo da infância do teu filho, mas para muitos apenas mais um jogo.
Quem diz educadora, diz professora, auxiliares e afins. 

E ainda que te prepares para o jogo, trabalhes o raciocínio, tenhas astúcia, facilidade na resolução de problemas que envolvem a lógica, elimines obstáculos, podes ganhar ou perder. (Parece que) nada depende de ti. E não depende, afinal isto é tão somente um jogo de sorte ou azar. É como jogar à moeda: cara ou coroa?
Eu, que fiz questão de visitar várias escolas, que falei com coordenadoras, que ouvi testemunhos, que avaliei e selecionei o que me pareceu melhor, sei que há coisas que não estão nas minhas mãos. Sinto-me a ter de fechar os olhos e a acreditar... na sorte. Consciente de que podia não ter feito nada do que referi antes e ter a sorte de uma boa educadora.

Vou esperar pela reunião geral e pela reunião com a educadora, vou esperar pelo primeiro dia, vou esperar pelo sorriso do meu filho, pelo seu discurso no regresso a casa, pelo brilho nos olhos a caminho da escola.
Fui ingénua, não pensei que me custasse tanto esta mudança, apesar de a ter previsto aqui. A educadora que ele teve tornou esta mudança ainda mais difícil.
Tal como escrevi aqui, eu sou pela Escola Pública, mas pela Escola Pública com qualidade.


P.S. 1 Se eu escolher cara e me calhar coroa, faço as malas e o miúdo regressa à escola em que esteve até ao final do mês de Agosto e só sai de lá aos 18 anos. Em relação ao orçamento mensal, que se lixe, é confiar na sorte.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O regresso às férias no sítio do costume: Armona 2018

O regresso ao passado recente. o regresso à nossa tradição de Verão. o regresso à viagem que nos faz chegar a Olhão. o regresso ao mar quente. o regresso às refeições na rua sem hora marcada. o regresso às caminhadas. o regresso ao passadiço de madeira. o regresso aos mojitos nos "Belgas". o regresso aos gelados (quase) todos os dias. o regresso às bolas de Berlim. o regresso ao estendal colorido feito com as toalhas de praia de cada um de nós. o regresso ao café da manhã no "Carlos". o regresso às cavalitas a pedido. o regresso aos mergulhos demorados. o regresso aos jogos de tabuleiro na rua. o regresso do pai à pesca. o regresso às fotografias tiradas em série. o regresso ao banho de rua e de alguidar. o regresso aos grelhados e às saladas. o regresso ao parque de areia. o regresso à Ilha, à (nossa) Ilha da Armona.
Este ano jogámos à macaca, jogámos futebol, encontrámos camaleões, recebemos visitas.
E depois de voltarmos ao lugar onde já fomos tão felizes, regressámos a casa.


Em Agosto de 2012 conheci a Ilha da Armona. Não me passava pela ideia ficar mais do que 4/5 dias num lugar sem muito para fazer. Assim foi: 5 dias felizes, mas 5 dias que me chegaram. Em 2012 ainda não era mãe. Em 2012, no mês de Agosto, quando cheguei à Ilha, já tinha feito análises e exames diversos porque tinha chegado a hora de ser mãe. Tínhamos decidido ser pais. Iniciámos as tentativas nesse mês. Em Agosto de 2012 engravidei, mas só o soube em Setembro. A gravidez não evoluiu, mas sou mãe de um anjo concebido em Agosto de 2012, talvez na Ilha da Armona. Esta Ilha é especial. 
Em Agosto de 2016 regressei à Ilha com o meu filho a pedir colo e carrinho, a fazer o desfralde, para uma estadia de 15 dias. 
Em Agosto de 2017 regressei à Ilha com o meu filho a andar de trotinete, ainda a querer colo, principalmente nas grandes caminhadas, para uma estadia de 15 dias. 
Em Agosto de 2018 regressei à Ilha, com o meu filho a andar de bicicleta, a escolher a sua roupa, a selecionar os brinquedos para as férias, ainda a pedir colo ou cavalitas, para uma estadia de 15 dias. 
Nunca mais me chegaram os 5 dias da primeira estadia. Ser mãe muda-nos, as necessidades mudam: sinto necessidade deste isolamento por 15 dias e não me passa pela ideia uma estadia inferior. 
É sempre bom regressar à Ilha e custa-me cada vez menos regressar a casa, porque volto a casa com a promessa de lá voltar. É a nossa tradição de Verão.
A criar memórias de família na Armona desde 2012.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Será que? Não faço ideia.

Será que vou deixá-lo com a tranquilidade com que to deixei a primeira vez? Recordo agora que me enviavas fotografias nos primeiros dias para me tranquilizar.

Será que vão conseguir entendê-lo? Compreender as suas dificuldades, as suas facilidades e as suas preferências?

Será que vão valorizar o seu progresso como tu fizeste?

Será que lhe vão dar um beijo repenicado e um abraço de manhã?

Será que me vão enviar uma mensagem a dizer que, apesar de não ter febre, não está bem?

Será que lhe vão reconhecer as necessidades nos dias em que o mau feitio impera?

Será que volto a confiá-lo num passeio ou numa ida à praia como o confiei a vocês?

Será que vão aguçar a sua curiosidade e o seu gosto pelo conhecimento do mundo, de novos lugares e de novas lendas como tu o fazes?

Será que os mapas de Portugal e do Mundo que lhe comprámos à conta do teu trabalho, continuarão a fazer sentido?

Será que cantará o Hino de Portugal num café qualquer como fez no outro dia? Será que dirá: foi "a minha professora" que me ensinou.

Será que vai ver, com os amigos da escola, jogos de futebol quando Portugal jogar num Europeu ou num Mundial?

Será  que vai continuar a perguntar-me com tanto interesse como é que se escreve isto ou aquilo?

Será que vai sentir saudades da horta, da vista, do espaço, dos amigos, da comida, das brincadeiras, das piscinas de Verão, das pessoas? Das pessoas, que são o mais importante de tudo...

Será que definirão, em conjunto, algumas regras? Aquelas que sabemos que são necessárias?

Será que se sentirá tão integrado num grupo como se sente aí?

Será que teremos proximidade suficiente com a educadora para conversarmos sobre o que achamos importante para o bem estar do miúdo?

Será que as novas aprendizagens lhe pesarão? É que apesar de teres proporcionado a aprendizagem/descoberta de tantos conteúdos, não senti que isso o sobrecarregasse. Ele sempre demonstrou gostar. Foram muitas descobertas/aprendizagens com sentido (para ele/eles). A culpa é tua.

Será que vou saber o que o meu filho vai fazendo ao longo do ano? Contigo eu sabia. Contigo, eu até podia aplicar as novas descobertas no nosso dia a dia, sempre que fosse adequado.

Será que vou ouvi-lo dizer "isso não se faz aos amigos", reconhecendo imediatamente que a frase foi trabalhada e discutida contigo.

Será?

Sei pouco do que nos espera lá à frente (em setembro). Sei bem o que ficou para trás. Sei das saudades que já temos. E a culpa é tua, da tua companheira de equipa, "a tua copiloto", de toda a equipa que faz parte desta escola.

Sei que posso fazer muito do que aqui foi escrito (de maneira diferente, claro), posso até fazer tudo e mais; sei que sou a mãe e que sou responsável pela sua educação, pelos valores que lhe transmito com exemplos; sei que o meu papel não é de mera espetadora; sei muita coisa (às vezes parece que não sei nada).
Mas também sei que ele passa cerca de 8 horas na escola; sei que ele tem 4 anos quase 5; sei que agora, mais do que as formalidades exigidas pelo sistema, é tempo de ganhar boas bases e oportunidades para descobrir o mundo... descobrir o mundo com interesse... é tempo de gostar de descobrir e de gostar de aprender. Convosco eu sabia que ele tinha tudo isto. Por isso, a saída é difícil. A culpa é vossa.

O nosso obrigado e até breve (não conseguimos dizer adeus).

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

À conversa com o meu filho #20 - conversas diversas, muitas sobre o mesmo

- Mãe, o Cristiano Ronaldo existe mesmo?

- O Eusébio morreu? Porquê? Conheceste o Eusébio? Ele era o capitão do Benfica?

- O Cristiano Ronaldo um dia vai morrer? Quando ele morrer, eu posso ser o Cristiano Ronaldo...

- Mãe, se ninguém morresse não havia estrelas.

- Pai, já não quero ser padeiro, quero ser jogador de futebol.

- Mãe a minha festa é sobre futebol.
- Filho, tinhas dito que querias uma festa da saga Star Wars...
- Não mãe, essa é a minha festa dos 6 anos. A dos 5 anos, é a festa do futebol. 

- Mãe quando o Cristiano for de Portugal, eu sou de Portugal. Agora sou da Juventus.

- Mãe, Portugal vai jogar com o Benfica???
- Filho, há vários campeonatos...
Acho que vou fazer um projeto com o miúdo sobre futebol; o pai diz que vai começar a ler jornais desportivos. Não faço ideia se tem jeito para o jogo, mas a avaliar pela dramatização quando marca (ou não) um golo, relator desportivo é uma (forte) possibilidade. Tem potencial.

- Mãe, já não quero ter irmãos.
- Ai não?

- Tiras uma camisola das tuas preferidas do cesto da roupa suja, esticas a dita em cima da cama e dizes: está lavada. Posso levar esta?

- Mãe estás a ler? Mas não falas? Podes ler para mim?
- Filho, estou a ler um livro para adultos em pensamento, só para mim, sem ser em voz alta. Lê também um dos teus.
- Mãe, eu não sei ler.

- Mãe ensinas-me a ler?

- Mãe, o 100 é maior do que o 1000? Mãe o 10 é o primeiro número com 2 algarismos. Mãe, olha o 100.

- Mãe, quero a minha privacidade, eu limpo-me sozinho (na casa de banho).
- Maaaaaaaaaaae, ajuda-me, tenho as mãos sujas (ainda na casa de banho).

- Mãe, adoro-te, és a melhor mãe do mundo.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Regressar, rabiscar e escrever num "sítio" que já me fez muito feliz: este (ao reler o que já escrevi)

Filho, a ausência de riscos, rabiscos e escritos dos últimos meses deve-se a menos tempo, menos vontade, outras prioridades... cada uma destas coisas e todas elas ao mesmo tempo. Mas continuo com vontade de ter um caderno para anotar algumas das coisas que vais dizendo e fazendo, para o caso da memória me trair e de eu me esquecer do que é a vida contigo.

- Todos os dias, quando te vou buscar à escola, queres ficar no parque. Nada de novo. Foi sempre assim.
- Em Fevereiro/Março deixaste de querer dormir na escola, apesar de eu achar que a sesta te faz falta. Com esta mudança, na maioria dos dias, adormeces às 20h00. Continuas a acordar às 7h, às vezes antes, mesmo quando te deitas mais tarde.
- Valorizas, cada vez mais, os amigos e as coisas que tens.
- Gostas de folia: não te cansas das festas que vão acontecendo aqui e acolá.
- Foste a Coimbra com a escola. Assim que surgiu a comunicação, aceitei sem receio; depois fiquei com o coração nas mãos, mas senti que sim, que podias ir. Foste e gostaste.
- Foste à praia com a escola. Desta vez confiei e, mais uma vez, senti que sim, que era altura de ires (com aquelas pessoas). Adoraste.
- Queres  escolher a roupa que vestes (camisolas, principalmente): camisolas de alças como o porquinho mais velho (o porquinho mais velho tem vindo a perder terreno na tuas preferências, mas ainda falas dele); a t-shirt de Portugal com o número 7; a do Benfica; as da saga Star Wars.
- Quando me viste chorar porque me enganei no caminho e não chegámos a tempo de ver uma peça de teatro, disseste-me para ter calma, que às vezes acontece, pediste-me para contar até 10.
- Queres fazer a tua festa num sítio com insufláveis. Lá se vai a minha intenção de fazer uma festa ao ar livre, como tem sido até aqui.
- Jogas à bola com entusiasmo, acho que a euforia do Mundial te contagiou. Jogas no parque, na escola e em casa. Na rua dás pontapés nos obstáculos que vais encontrando - é claro que a vida útil dos teus ténis diminuiu consideravelmente. Os teus joelhos estão encardidos, mas tu andas feliz.
- Vimos juntos o primeiro jogo de Portugal,  vibrámos os dois quando Portugal marcou o primeiro golo deste Campeonato. Depois chegou o pai e o trio ficou completo.
- Assististe aos jogos do Mundial com muito entusiasmo: pelos jogadores portugueses, pelo Cristiano Ronaldo, pelo Pepe, pelo Rui Patrício e companhia; apreendeste a respeitar o adversário e avisaste, logo no início do último jogo de Portugal, que o Uruguai era uma equipa muito forte; aperfeiçoaste o trabalho em equipa; descobriste que há números com 2, 3 ou mais algarismos - a caderneta do Mundial proporcionou a descoberta. Precisamos de aperfeiçoar as regras de futebol: reclamas falta e penalti como quem bebe um copo de água.
- À conta da caderneta, aperfeiçoaste a técnica de colar autocolantes (alguns moram na tua cama); passaste a entender melhor os números; descobriste novas bandeiras e novos países.
- Passámos 4 dias na Galé no início de Julho e o drama de quem tem de se despedir das (mini) férias repetiu-se. Tu continuas a querer viver nas férias. Eu e o pai jogámos à bola contigo todos os dias.
- Passámos um fim de semana em Melides no final de Julho: numa casa de Madeira, com piscina, com uma cama de rede. Queremos uma casa daquelas. Nesta casa tu e o pai dormiram na sala e adormeceram a ver o Campeonato de Hóquei.
- Vibraste com a vitória da equipa portuguesa no EURO sub-19 e já percebeste que há outras equipas para além da "principal" e que há muitas outras modalidades desportivas, igualmente importantes.
- Não tarda muito vamos iniciar o nosso campeonato de férias grandes de 2018,  no sítio do costume. E esse sim, temos de vencer: observar, driblar, passar, rematar, marcar, ganhar, comemorar... Tudo. Vamos lá viver nas férias mais 15 dias (daqui a menos de 15 dias).

Dedicaste-te à rega depois de Portugal sair do Mundial, mas não deixaste a camisola.

Talvez não seja boa ideia subir as escadas a fazer cambalhotas...

Piscina, jogar à bola e apreciar a paisagem... já me parece boa ideia.

sexta-feira, 9 de março de 2018

Eu, mãe e encarregada de educação, à conversa com o/a (imaginário/a) futuro/a professor/a do meu filho... ou a carta que (me) escreveria se fosse professora

Começo por te dizer que não quero intrometer-me no teu trabalho. Não me leves a mal por redigir sugestões -  julgo que não te sentirás ameaçada, creio que acreditas em ti e nas tuas convicções. Desculpa se, em algum momento, for incorreta. Não é essa a minha intenção. Redijo esta carta como mãe de um futuro aluno teu, apenas isso. Sou importante na vida do miúdo e quero saber o que se passa no percurso escolar dele, mas eu sou a mãe. O/A professor/a és tu. Acredito que és capaz de fazer muito mais do que te vou pedir. Mas também sei que há quem não o seja (por medo, até). Preciso de saber com o que posso contar. Tenho esse direito como mãe, da mesma maneira que tu tens os teus direitos como professor/a, nomeadamente o meu respeito pelo teu trabalho.

Se a escola em que trabalhas está entre as 230 que puderam testar, através de projetos-piloto, as mudanças propostas pelo Ministério da Educação no âmbito da flexibilidade curricular, é para ti que escrevo. Se não está, também é para ti. Porque acredito que em qualquer uma das situações, tu podes muito.

Conversa com os Encarregados de Educação e explica-lhes que a Educação está a mudar. E que essa mudança é necessária e é para um bem comum: o futuro. Ainda nem todos se aperceberam desta realidade, mas acho que a necessidade de mudança já reside em todos nós - de maneiras diferentes, é certo. Fala-lhes dos teus receios e das práticas, inerentes a essa mudança, que pretendes implementar. Pergunta-lhes se estão dispostos a ajudar. Diz-lhes que és tu quem gere as tuas aulas (não é possível agradar a todos), mas que precisas do apoio de todos.
Podes pedir a cada um para escrever aquela que acha que será a maior dificuldade do filho. Podes pedir sugestões de melhoria a implementar na turma/na escola. Podes pedir a cada um uma prática a manter (se for caso disso). Dá-lhes tempo para pensarem nas respostas. 
Com a análise das respostas consegues conhecer um pouco melhor o grupo de pais que tens. Se puderes e se te fizer sentido, implementa uma ou mais ações de melhoria, em conjunto.
Lembra-te que recebeste formação para ser professor/a, mas nenhum de nós a recebeu para ser encarregado/a de educação - eu ainda estou a definir o meu papel nesta relação, quero participar sem ser intrusiva.
Sei que alguns encarregados de educação conseguem ser intragáveis. No meu trabalho, que nada tem a ver com Educação, também os encontro - não neste papel, existem em todo o lado, não é nada pessoal.

Não tenhas medo de alterar a organização da tua sala de aula, de a adaptares ao tipo de atividades que queres desenvolver: em "U", em pequenos grupos, todos à volta da mesma mesa? Por mim, podes experimentar e mudar consoante as necessidades do teu grupo. Se me pedires ajuda para colocar as mesas na rua para que os miúdos observem e desenhem a paisagem (ou parte dela) que têm à disposição, eu ajudo.

Não tenhas medo de ir para a rua falar de plantas, de seres vivos e não vivos, do movimento aparente do sol, das fases da lua, das espécies... Não tenhas medo que eles dispersem. Define e transmite as regras antes de ires para a rua: hoje a ida para a rua tem este ou aquele objetivo ou a nossa saída é livre, depois falaremos acerca do que cada um escolheu fazer. Assim, dás voz aos teus alunos.
Haverão dias em que a dispersão, que por vezes te assusta, pode permitir a recolha de muito material para trabalhares no futuro: se apanharem pedras, fala-lhes de rochas; se andarem de baloiço, fala-lhes de roldanas e de molas; se brincarem na areia, orienta-os para a pesagem da mesma; se encontrarem uma "Joaninha", fala-lhes de insetos... Não te preocupes, eu não vou reclamar se o miúdo chegar a casa com a roupa encardida ou se ele me disser que brinca muito todos os dias.
E se chegares à sala de aula e não explicares formalmente para que serve um compasso e optares por lançares o desafio "para que serve isto?" - vou adorar. (Contaram-me que uma escola fez isto, adorei a ideia do ensino pela descoberta; colocaram vários compassos no chão e questionaram, "isto serve para quê?"; houve exploração, discussão e conclusão). .

Se algum aluno mostrar interesse por algum assunto que não dominas, não te apavores. Não tens de saber tudo. Pergunta a opinião a outros alunos. Regista as ideias que são apresentadas. Chama-lhe Tempestade de Ideias e esquematiza o que julgam saber sobre o tema.
Depois, lança o desafio: vamos descobrir mais sobre isto? Formem grupos. Definam o que querem saber. Definam tarefas: quem pesquisa na internet; quem recorta imagens de revistas; quem procura um livro sobre o assunto; quem entrevista alguém (na escola, um vizinho, o sr. do talho, a tia...). Já pensaste nas áreas que podem ser trabalhadas com este tipo de atividade?
Cada grupo trabalha no sentido de cumprir a tarefa pela qual é responsável. Cada grupo apresenta, aos colegas, as respostas/descobertas/dúvidas que vão surgindo.
Em grande grupo, definam como vão apresentar os resultados/as respostas/as descobertas finais: numa cartolina, num filme, uma entrevista, uma peça de teatro? Iniciem um projeto e apresentem-no aos Encarregados de Educação. Ou a outra sala. Todos aprendem mais.

Se me disseres que não vais usar os livros escolares, definidos pela escola em que lecionas, seguindo a ordem de páginas ou o programa definido, abraço-te - desculpa o abuso. Se me disseres que o Livro de textos será construído pelos alunos com a tua orientação, abraço-te dez vezes. Não sei se gostas de abraços. Eu não gosto muito de abraços (só de algumas pessoas), mas entusiasmei-me com esta ideia.

Não mandes trabalhos de casa diariamente, eu gosto de aproveitar os finais dos dias com outras coisas. E isto sou eu, que consigo ir buscar o miúdo cedo. Já pensaste nos pais que chegam tarde?

Não desistas do meu filho nas maiores dificuldades. É nesse momento que ele precisa mais de ti. E eu também. 

Quando o meu filho ficar muito elétrico, tenta perceber se está cansado, se tem sono. Ele exterioriza o cansaço assim. Pergunta-me o que quiseres para o conheceres melhor.

Se achares que o meu filho precisa de uma festa, de um abraço, de um beijo ou de colo, sente-te à vontade para o fazeres. Se o fizeres com outra criança que precisa, não sintas que tens a obrigação de o fazer com todos. Sabes melhor do que eu que não precisam todos das mesmas coisas ao mesmo tempo.

Ainda não sei se o meu filho vai conseguir memorizar com facilidade conceitos impostos. Mas peço-te que tentes perceber se sente dificuldades. Quero dizer-te que estou disposta a discutir e a dar continuidade a alguma estratégia que implementes no teu espaço e no teu tempo, estou disponível para encontrar contigo uma alternativa. 

Se achares que o meu filho age mal muitas vezes, fala comigo. E com ele, claro. Diz-me em que situações o faz. A educação do meu filho, apesar de existirem por aí umas circulares que dizem o contrário, não é só da minha responsabilidade. Quando tu o chamas à razão, quando o orientas para o cumprimento de algumas regras, quando lhe dás o teu exemplo, também estás a educá-lo. E eu agradeço-te por isso. Nem imaginas o quanto.

Se pretenderes criar uma nova área no vosso espaço, pede-me ajuda. Não tenho jeito para expressão plástica, nem muito tempo. Mas se fores concreta, eu chego lá e estou disponível. 

Acho mesmo que a profissão que abraçaste é a base para um futuro melhor, acho que o poder que tens nas mãos vai muito além de políticas implementadas e obsoletas e interesses desajustados. Tens o poder de fazer coisas bonitas, de ajudar pessoas a ser e a fazer melhor. Ainda que pequeninas em tamanho, são pessoas grandes pelas oportunidades que nos dão: são uma oportunidade para o mundo. Tens a capacidade de mostrar, de fazer descobrir, de fazer sorrir, de fazer aprender, de fazer ensinar, de fazer partilhar. E também tens a oportunidade de receber: tudo isto e muito mais.


Carta inacabada...

quinta-feira, 8 de março de 2018

Reflexões profundas (ou não) #35 - Livros com descontos, estou tramada.

Escrevi aqui que, com as promoções de Natal e com os descontos de 50% da Editora Livros Horizonte, temi tornar-me compradora compulsiva de livros infantis. Pensei que se seguia um período de calmaria a contrastar com a ventania que se tem sentido nos últimos dias. Só que não. A wook diz que me devolve 100% em cartão do que comprar hoje. E é isto, estou neste momento num processo doloroso de seleção, uma vez que a minha lista de desejos tem cerca de 100 livros (99 para ser mais precisa). 
Já percebi que não terei um desconto de 50%, mas 33% de desconto não é nada mau - sim, quando vi a publicidade pensei que conseguia comprar livros com 50% de desconto, mas já percebi que não. 

Inicialmente pensei: 
-compro hoje um livro de 10€,
-ganho 10€ em cartão, 
-daqui a 15 dias mando vir um livro de 10€. 
-e no fim das contas compro 2 livros, que têm o valor de  20€, por 10€ (50% desconto)... Só que não é assim. 

Eu comecei por dizer que quase me tornei compradora compulsiva, logo tenho o dever de ter desenvolvido um pouco mais a minha capacidade de análise:
-compro hoje um livro de 10€,
-ganho 10€ em cartão,
-daqui a 15 dias mando vir um livro de 10€, mas não posso utilizar os 10€ do cartão (condições da campanha: Aplicável numa ou em várias encomendas até ao limite de 50% do valor total dos livros da encomenda) - ou seja, só posso utilizar 5€ do cartão e pago os restantes 5€.
-então escolho outro livro de 10€, utilizo os restantes 5€ do cartão e pago os restantes 5€ (não sou menina para deixar o cartão da wook com 5€ esquecidos)
-no fim das contas compro 3 livros, que têm o valor de  30€, por 20€ - 33% de desconto não é nada mau... E continuo tramada.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Grandes livros para pequenos leitores #29 - A princesa baixinha

Amanhã é dia 8 de Março, dia Internacional da Mulher. Ainda não pensei no que te vou dizer sobre este dia, não sei o que vais ouvir na escola... Mas, hoje, vou contar-te esta história.


Era uma vez uma princesa muito baixinha. Alguns, mais maliciosos, duvidavam até que fosse uma princesa de verdade. O seu avô também fora um homem muito baixo, no entanto isso não o impediu de combater contra os inimigos - segredou-lhe a avó. Assim, nasceu na princesa a vontade de fazer coisas importantes: atravessou bosques, montanhas e desertos, enfrentou um dragão, desatou nós apertados de sacas de farinha enfeitiçadas, afastou condores e regressou a casa como... uma grande princesa. 
A Princesa Catarina é forte e corajosa, tal como qualquer um o pode ser: seja menino ou menina. É isto que te quero dizer amanhã: qualquer um, seja menino ou menina, pode ser forte ou frágil, corajoso ou medroso, alto ou baixo...

É um livro de Beatrice Masini e de Octavia Monaco, da Editora Livros Horizonte.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Então e atividades depois da escola??

Nenhuma... A não ser que contabilize:

- brincadeiras no parque;
- idas a espetáculos em família (não tantas como gostaríamos, mas algumas);
- pinturas diversas em casa, incluindo paredes, mesas e móveis (já não acho muita graça, confesso);
- músicas tocadas a vários instrumentos (mal tocadas, é certo, mas com exploração instrumental);
- cambalhotas em cima da cama com a mãe e ataques de cócegas (fazer-lhe cócegas e ouvir-lhe o riso é terapêutico, às vezes é uma forma de adocicar o final dos dias);
- brincadeiras de faz de conta;
- concentração visual com o visionamento de séries de televisão... pois, por aqui também se vê televisão, mas com restrições;
- expressão dramática (se ele tem jeito para isto);
- passeios de bicicleta com mãe a correr atrás dele;
- molhar-se no sistema de rega (propositadamente);
- saltar nas poças de água - comprei um fato e já tem botas de borracha, faltava a chuva. Agora não falta nada;
- histórias e mais histórias: nos últimos meses temi tornar-me compradora compulsiva de livros infantis, mas o raio das promoções de Natal e os descontos de 50% publicitados por uma editora que me é querida foram os culpados. Estou em processo de recuperação. Não estou curada. Nem sei se algum dia estarei.
- idas ao parque... Já escrevi isto, não já? Ele precisa muito de parque (e eu de rua). Os fins de semana sem parque ou sem passeios na floresta (não é bem uma floresta, mas é assim que a designamos) são mais complicados de gerir.
...

E depois de tudo isto, tenho de escrever que não sou contra as Atividades extracurriculares. Pelo contrário, eu até acho que devíamos pensar em inverter papéis: AEC's com a duração dos períodos letivos e estes com a duração das AEC's, principalmente quando aqueles implicam a inércia dos corpos pequeninos em cadeiras desconfortáveis demasiado tempo e quando as crianças sentem um interesse verdadeiro por estas atividades. Assim, este texto não significa que seja contra a existência de AEC's; está relacionado apenas com o facto de o miúdo não ter demonstrado grande entusiasmo nas atividades que experimentou na escola. E por eu, por conveniência monetária e de disponibilidade, não ter insistido.
A Educadora do meu rapazinho explora os domínios da Educação Física, da Educação Artística, Inglês, Matemática, Linguagem Oral e Abordagem à Escrita, Conhecimento do mundo, Formação Pessoal e Social, etc... Ele, espontaneamente, também explora estas áreas nas brincadeiras que tem. Não sinto que tenha de completar os dias dele com mais atividades, a não ser que ele demonstre gosto/vocação/aptidão por uma determinada área. Por outro lado, também prefiro a interação que as atividades acima descritas nos proporciona. Faz-me participar mais no dia a dia do miúdo. No entanto, estou disposta a proporcionar-lhe uma atividade para além da escola... mais tarde, se ele gostar e se não nos sobrecarregar demasiado (a todos os níveis).
Acho que a Natação é uma hipótese a considerar (fez em bebé, mas desistimos): quando vamos à piscina recreativa, ele gosta... e eu também.
Gostava que ele experimentasse uma Arte Marcial: o miúdo gosta de brincadeiras que envolvem empurrões e moches, acho que lhe aumentaria a capacidade de autocontrole sobre o seu corpo / a sua força/energia. Não é alto para a idade, não é gordo, mas tem força. Contactei uma Academia e adorei a primeira abordagem: podemos assistir a uma aula para percebermos se demonstra interesse, se imita o que vê; o miúdo não pode fazer uma aula experimental, mas sim 2, 3... 6, sem compromisso. Nestas idades algumas crianças sentem-se intimidadas nas primeiras aulas, são mais introvertidas, e uma aula experimental não é suficiente para se perceber se a criança gosta - foi esta a explicação. Não será para já, sinto que ele chega ao final do dia cansado e não quero sobrecarregá-lo, mas a ser, esta Academia parece-me a indicada. Por agora ficamos assim.

 Imagem retirada daqui - à procura de uma imagem para ilustrar esta divagação, acabei por encontrar um texto alusivo ao tema

Acho que esta imagem ilustra bem o que penso em relação às atividades extracurriculares: não em relação às atividades em si, mas sim ao facto de serem realizadas em períodos depois da escola, quando, muitas vezes, as crianças já estão exaustas.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Olá e adeus...olá e adeus... olá

Adeus Agosto de 2017: o mês do meu aniversário e do aniversário da minha tia-irmã. O mês em que iniciámos, já nos últimos dias, as nossas férias grandes de 2017.

Olá Setembro de 2017: o mês em que terminámos as nossas férias grandes de 2017. Adeus Setembro: o mês em que o miúdo lá de casa reiniciou a escola com os amigos do costume (não mudou de escola) e comemorou o seu 4º aniversário.

Olá e Adeus Outubro de 2017: este ano não foste mau. Mudaste, Outubro! Já não te suportava.

Olá e Adeus Novembro de 2017... já não me lembro de ti.

Olá e Adeus Dezembro de 2017: apareceste e partiste com a magia que te caracteriza. Com festas e com almoços felizes, com espetáculos para todos, com a primeira ida ao cinema do miúdo, com uma volta na Roda Gigante de Lisboa, com viroses para todos (mas por que raio os bicharocos teimam em visitar-nos nesta altura?), com prendas e surpresas para todos, com férias, com carrósseis. Foste mágico. Passados tantos anos voltei a amar-te. É oficial e já o assumo sem receio, voltei a amar-te, meu querido mês de Dezembro.

Olá e Adeus Janeiro de 2018: começamos contigo o novo ano e encerramos contigo as encenações de Natal. A árvore foi arrumada em Janeiro, no entanto o Pai Natal  só foi buscar o nosso presépio em Fevereiro. Para além do atraso, esqueceu-se de levar os Reis Magos, o que significa que vou ter de inventar uma história qualquer para justificar o desaparecimento deste poderoso trio. O miúdo recebeu a visita de uma nova virose.

Olá Fevereiro de 2018 e mais uma virose!? "Queridas", ninguém vos convidou. Detesto visitas inesperadas, deixem o miúdo em paz.