quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

É a vida a acontecer...

É ele a observar atentamente os senhores do camião do lixo quando estes despejam os contentores; sou eu valorizar o trabalho deles, se não recolhessem o lixo, a nossa terra seria um sítio pior.
São as pessoas a deitar papéis para chão; sou eu a dizer-lhe que existem caixotes para se colocarem os papéis inúteis. Assim, o trabalho dos senhores do camião do lixo é mais fácil. 
É a senhora que anda de cadeira de rodas a subir para a carrinha adaptada com o apoio de uma auxiliar; sou eu a explicar-lhe que a senhora, tal como a Clara da "Heidi", não consegue andar; é ela a dizer-lhe adeus; é ele a dizer-lhe adeus com ar de espanto por conhecer uma pessoa que tem as mesmas limitações da Clara.
Sou eu a mostrar-lhe a Serra da Arrábida; é ele a dizer-me que são as montanhas do Pedro da "Heidi".
Somos nós a visitar uma eventual creche para ele; é ele a deixar a minha mão e a dar a mão à Educadora quando ela o convida para entrar. Sou eu a ir buscá-lo para irmos embora.
São as pessoas a passar por nós e a meterem-se com ele; sou eu a pedir-lhe para as cumprimentar, elas estão a ser simpáticas, mesmo quando ele não lhes responde.
É ele a levantar a mão; sou eu a dizer-lhe que não o pode fazer, as pessoas ficam tristes se o fizer. 
É ele a espernear; sou eu a olhá-lo nos olhos e a dizer-lhe que não quero que o faça; sou eu a cobrar-lhe respeito. 
É ele a fazer uma birra; sou eu a dar-lhe espaço, sou eu a tentar perceber como o posso ajudar.
Sou eu a tentar levantar-me da sua cama; é ele a dizer que me ajuda. Sou eu a ficar feliz por isso.
É ele a dizer que gosta de mim e a pedir-me um abraço; sou eu a viver (feliz) isto de ser mãe.
Sou eu a tentar ensinar-lhe coisas que valorizo; é a vida a acontecer.

Filho, quanto mais te conheço, quanto mais te descubro, mais gosto de ti.

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