sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

À conversa com o meu filho #12 - Coisas e conversas / Barómetro de crescimento #10 - 40 meses de vida

- Meu amor anda cá - chamo-lhe meu amor muitas vezes.
- Diz minha amora -  responde-me, baralhado com isto do masculino vs feminino.

- Não faças isso, não sejas porquinho. Não queres que te chamem porquinho, pois não?- perguntam-lhe.
- Sim, quero que me chamem Porquinho Mais Velho - ele e a loucura pela história de "Os três porquinhos"; diz sempre que é o porquinho mais velho. Logo, se alguém o chamar de porquinho, ele não se sentirá nada ofendido. Pelo contrário. Convém é que digam que é o mais velho.

- No outro dia, deparando-se com uma dificuldade qualquer (não me lembro muito bem o que era), disse-nos muito empertigado: Ajudem-me, temos de nos ajudar uns aos outros!
Orgulho,orgulho, orgulho! Agora, pego neste seu argumento e de vez em quando lá o relembro em voz alta (e em contexto adequado) para que ele não se esqueça.

- A semana passada perguntou-me pela carrinha do pai. Disse-lhe que a carrinha estava velha e cansada, que tinha ido viver para a beira mar, tal como a história que escrevi aqui.

- Quando o miúdo teve varicela, teve alguns ataques de ternura (excessivos, comparando com a normalidade): apertava-me, abraçava-me e beijava-me o rosto com muita força. Pensei que era para aliviar a comichão, estava sempre a chateá-lo para não se coçar que  pensei que fosse uma estratégia do miúdo.
A varicela já lá vai há muito e ele continua a fazer o mesmo. Talvez o miúdo só quisesse agradecer o facto de eu estar a cuidar dele, o facto de eu aliviar a comichão que ele sentia. Eu é que devo ter perdido a capacidade de ver o lado romântico das coisas, a pureza e a sinceridade das atitudes.
Filho, hoje, dia em que completas 40 meses de vida, agradeço-te por trazeres de volta um bocadinho desta capacidade.

E o que é que eu tenho a dizer sobre ele?
Continua inquieto. Continua traquina. Às vezes faz-nos perder a capacidade de pensar. Às vezes fala "à bebé", julgo que é por conviver com crianças mais novas do que ele na creche e na AMA. Continua a estar com a AMA uma tarde por semana, pelo menos. Continua a ter um sono agitado e a chamar por mim durante a noite. Continua a acordar cedo. Continua a não querer fralda durante a noite. Quando está muito cansado, pouco tempo depois de adormecer, chora impaciente durante algum tempo. Quando acorda, temos sempre uns minutos de mimos reservados para nós. Antes de eu sair de casa beijo-o sempre e ele abraça-me sempre. Tem respostas muito engraçadas (para nós, pais, tudo é motivo de muita graça). Chateia-nos, ralhamos, pede-nos desculpa com o ar mais arrependido de sempre, pede-nos abraços e dá-nos beijinhos - Expressão Dramática, espera por ele. Na escola porta-se bem. Em casa porta-se (muitas vezes) mal. Na escola come tudo e come sozinho. Em casa arma-se em esquisito e pede-nos ajuda para comer muitas vezes. Às vezes tenta despir-se sozinho antes de entrar na banheira: eu consigo sozinho - diz-nos. Às vezes tenta subir as escadas ao colo (3º andar). Trepa muito, ainda ontem escalou uma parede dezenas de vezes - foi a primeira vez que escalou aquela parede, corria feliz da vida e orgulhoso por conseguir fazê-lo; depois, descia o escorrega ao contrário e corria. Fala dos amigos da escola, fala da escola, mas nos últimos dois dias reclamou por não querer ficar lá. Diz que não gosta da Ginástica, mas em casa pula que se farta e tenta dar cambalhotas. Diz que gosta muito de Música. Acho, sinceramente, que ele prefere o professor de Música ao de Ginástica. Perdeu o ar de bebé, talvez pelo corte de cabelo forçado. Já decidi que não cortarei o cabelo ao miúdo nos próximos 10 anos, no entanto prevejo um caminho conturbado e revolto até alcançar o comprimento ideal - quando o vejo de manhã penso sempre que já é Carnaval, tal não é o desalinho que vislumbro.
Este miúdo continua a ser a melhor coisa que me aconteceu na vida. O que é que eu posso dizer mais?

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