"Em miúda/adolescente adorava o Natal pela alegria que se vive nesta época, que devia prolongar-se o
ano inteiro. Gostava dos preparativos, gostava de fazer a árvore de Natal no
início de Dezembro, gostava de comprar prendas para todos, tendo em conta o que
cada um gostaria de receber, gostava de ver a árvore de Natal cheia de prendas,
gostava da reunião familiar na véspera de Natal, gostava de ver a cara das
pessoas quando abriam as prendas, gostava de receber prendas, gostava das ruas
cheias de gente, principalmente na baixa Lisboeta. Gostava
ainda, e muito, de poder trazer para casa na noite de Natal quem quisesse
comemorar esta data connosco. Não era necessário ser familiar, bastava que essa
pessoa assim o desejasse. Aconteceu algumas vezes trazer pessoas conhecidas e
amigas, que não tinham com quem passar a noite de Natal, para a nossa casa. Elas
passavam a fazer parte do nosso Natal e esse espírito, para mim, era o
verdadeiro espírito natalício.
Lembro-me,
porém, de não gostar muito de “interromper” o Natal na casa da minha mãe para ir
almoçar a casa do meu pai. Não que eu não quisesse estar com ele, não que eu
não gostasse dele (pelo contrário), mas não sentia a casa dele como minha e
isso quebrava aquele espírito de felicidade plena e a minha euforia. Na casa do meu pai era tudo tratado com mais seriedade e formalidade, pelo menos era assim que eu
sentia. Lembro-me de achar que a árvore de Natal da casa dele era mais bonita
do que a nossa, era maior, tinha mais variedade e mais quantidade de enfeites,
tinha um presépio com musgo e tudo, os doces expostos na mesa eram mais e,
aparentemente, melhores. No entanto, não era a minha árvore de natal, não eram
os meus enfeites, não tinha sido eu a fazê-la, não eram os nossos doces, não
era o arroz doce da minha avó, não era a minha gente, não era a minha casa cheia
de mulheres - pelo menos até 1995, ano em que o meu afilhado nasceu. Por tudo
isto, se me dessem a escolher, não trocava o meu verdadeiro Natal por aquela
visita natalícia.
Gostava
de estar com meu pai? Sim, gostava, mas naquele dia eu sentia-me ainda mais
estranha na casa dele.
Revoltei-me
um pouco com o Natal, e com o mundo em geral, quando o meu pai morreu.
Coisas menos boas aconteceram na minha vida e eu culpava-o por tudo. Ansiava
por paz, mas não a alcançava. Chorava a morte dele e as oportunidades perdidas
para sempre, mas não as ultrapassava. Queria sair daquele estado de
tristeza-revolta, mas não conseguia. Desde 2005 até 2012 (inclusive) não fiz
árvore de Natal uma única vez e o espírito era outro. Tudo melhorou no ano em
que a minha sobrinha nasceu, mas o verdadeiro espírito natalício e a
vontade de recuperar tradições natalícias renasceu este ano. Nasceu este ano,
porque o meu filho nasceu e eu quero que ele tenha raízes e recordações dos seus Natais.
Filho, a construir novas tradições de Natal desde 2013 para que tenhas boas recordações.
Obrigada
meu amor, bem-vindo ao nosso Natal."
Escrito no dia 24 de Dezembro de 2013.
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