És pela escola pública ou pela escola privada?
- Sou pela escola com qualidade. Acessível a todos.
Isso é vago.
- Defendo uma escola pública diferente da de hoje.
Isso é vago.
- Defendo uma escola pública diferente da de hoje.
Mas existem escolas públicas que são melhores do que algumas privadas?
- Existem. E o contrário também é válido. Acho que a preocupação deve ser a melhoria contínua da escola pública: definir que aspetos podemos melhorar a curto e a longo prazo, definir etapas, arregaçar as mangas e deitar mãos à obra.
Então, atualmente, pode dizer-se que és pela escola privada?
- Sou pela qualidade que algumas escolas privadas disponibilizam. Algumas públicas também, no entanto são mais difíceis de encontrar.
Pessoalmente falando, por um lado, sinto dificuldades em encontrar a escola pública que idealizei, não a perfeita, mas uma que se aproxime da que idealizei; por outro, as escolas privadas que encontro têm mensalidades elevadas para mim. Encontrei uma que, talvez, esteja ali a meio do caminho.
Realço ainda que, independentemente de me identificar com algum Jardim de Infância público da minha área de residência (e tenho a sorte de me identificar com, pelo menos, 2; não me identifico com tudo, mas...), o facto de a maioria só garantir vaga aos 5 anos (no próximo ano letivo julgo que crianças com 4 anos já terão vagas) obriga-me a escolher um privado para o meu filho, que faz 3 anos no final de Setembro. Ou a esperar. Neste momento, para nós, esperar não é alternativa.
Julgo que querem garantir vagas no Ensino Público a partir dos 3 anos?
- Também ouvi dizer. E já se prepararam para isso? Aceitam crianças que usem fraldas aos três anos? E chucha? E que durmam a sesta? Estas questões são colocadas na ficha de inscrição/candidatura/matrícula? Se são, qual é o objetivo? Excluir alunos ou adaptar o espaço aos alunos que vão receber?
Pois, não sei.
- Nem eu.
Aquilo que tu consideras qualidade no ensino pode não o ser para outros? Concordas?
- Concordo. O que é qualidade para mim e para a minha família, para a nossa forma de estar na vida, para os nossos objetivos, para os valores que defendemos, não o será para outros. Isto da qualidade acaba, inevitavelmente, por ser subjetivo. Ainda há dias uma pessoa amiga me falava de um Jardim de Infância que tinha sido frequentado por alunos que tiveram notas muito acima da média. Para mim, é muito rígido, não me identifico com o método que praticam - lá está, o que é bom para mim não é bom para os outros e vice-versa.
No entanto, considero que temos de olhar para a maioria dos modelos de escola que temos e analisar, criticamente, os resultados: existem estudos que apoiam metodologias ditas alternativas; existem escolas com metodologias alternativas com bons resultados e dinâmicas mais interessantes para os alunos; existem educadores/professores que acreditam nas "novas metodologias", mas têm medo da mudança; existem alternativas ao aluno assimilador de conteúdos debitados por um "superior hierárquico".
Tendencialmente a criança deve ter um papel ativo no seu processo de aprendizagem, deve contribuir para a construção do seu conhecimento, deve atribuir significado ao que aprende. As diferenças entre as crianças devem ser respeitadas: as diferenças devem ser motores e não travões do desenvolvimento. O professor deve ser um mediador, um guia, um orientador e não um mero transmissor (isto também deve ser frustrante para o professor).
Seria interessante que localmente/regionalmente existissem apresentações periódicas das escolas públicas que cada local/região dispõe: quais os métodos pedagógicos que defendem, qual a forma de funcionamento e organização, quais são as suas prioridades, os valores que defendem, as formas de relacionamento com as famílias, o que esperam dos pais/cuidadores, como é organizado o dia a dia dentro de cada sala e da escola, etc. Quando procuramos uma escola privada, temos acesso a informação que nos é barrada na escola pública. Isso incomoda-me. Conheço muita gente que inscreveu os filhos na escola pública sem sequer a conhecer.
Logisticamente é difícil organizar essas apresentações de que falas.
- Nem que seja uma página de facebook criada e gerida por cada escola. Vou mais longe, cada professor devia efetuar a sua própria apresentação. Se na escola mais próxima da minha casa existir uma professora que trabalha de acordo com o método de ensino tradicional/transmissivo e uma que trabalha com base no Movimento da Escola Moderna (MEM), porque é que não posso ter acesso a essa informação atempadamente (antes de o inscrever) e optar?
E se todos quiserem a mesma professora que tu?
- Se todos quiserem a mesma professora (o mesmo método), a escola tem o dever de se adaptar. Ou não? Os professores aceitam aprender/investigar/conhecer o novo método eleito pela maioria, com apoios adequados às suas dificuldades.
A escola não é uma organização estática, ocorrem mudanças todos os dias: num dia temos apenas alunos portugueses numa determinada turma, no outro estamos a receber refugiados, na semana seguinte uma criança com uma necessidade específica e por aí adiante. O que é que fazemos perante este cenário? Mantemos tudo igual? Talvez fosse um passo para uma escola mais democrática.
Achas que um professor com 50 anos de idade deve adaptar-se às novas metodologias?
- Não são novas, "nós" é que andamos a ignorá-las há décadas. E não há tantos professores mais velhos que se adaptaram às novas tecnologias?
O professor de 50 anos se não tiver capacidade para se adaptar ao novo modelo (cá está, todos temos as nossas limitações), pode ser um óptimo contador de histórias, pode ajudar na resolução de alguns problemas de matemática, pode organizar, com os alunos, a biblioteca, pode ir com eles para a rua... E, muito importante, pode aprender muito.
Imaginemos 2 turmas do 1º ciclo do Ensino Básico, cada uma com o seu professor titular: o professor da turma A adora realizar atividades ao ar livre e tem um gosto especial pela atividade física; o professor da turma B tem um jeito (quase) inato para as artes plásticas e a sua área preferida é a Língua Portuguesa. Deixamos cada um destes professores com a sua própria turma, transmitindo aos alunos o que mais gosta e dando menos ênfase à área que menos lhe agrada? Ou sugere-se à professora da turma A que oriente uma atividade ao ar livre para as duas turmas e à professora da turma B que oriente uma aula de Expressão Plástica? Ao optar por esta hipótese, alunos e professores ficam a ganhar: os alunos têm oportunidade de experimentar o melhor de cada professor; cada professor tem oportunidade de experimentar áreas em que não se sente tão à vontade.
Julgo que as escolas, desde que apoiadas, aceitariam mudar para práticas mais democráticas, mais justas e mais agradáveis para todos.
Pessoalmente falando, por um lado, sinto dificuldades em encontrar a escola pública que idealizei, não a perfeita, mas uma que se aproxime da que idealizei; por outro, as escolas privadas que encontro têm mensalidades elevadas para mim. Encontrei uma que, talvez, esteja ali a meio do caminho.
Realço ainda que, independentemente de me identificar com algum Jardim de Infância público da minha área de residência (e tenho a sorte de me identificar com, pelo menos, 2; não me identifico com tudo, mas...), o facto de a maioria só garantir vaga aos 5 anos (no próximo ano letivo julgo que crianças com 4 anos já terão vagas) obriga-me a escolher um privado para o meu filho, que faz 3 anos no final de Setembro. Ou a esperar. Neste momento, para nós, esperar não é alternativa.
Julgo que querem garantir vagas no Ensino Público a partir dos 3 anos?
- Também ouvi dizer. E já se prepararam para isso? Aceitam crianças que usem fraldas aos três anos? E chucha? E que durmam a sesta? Estas questões são colocadas na ficha de inscrição/candidatura/matrícula? Se são, qual é o objetivo? Excluir alunos ou adaptar o espaço aos alunos que vão receber?
Pois, não sei.
- Nem eu.
Aquilo que tu consideras qualidade no ensino pode não o ser para outros? Concordas?
- Concordo. O que é qualidade para mim e para a minha família, para a nossa forma de estar na vida, para os nossos objetivos, para os valores que defendemos, não o será para outros. Isto da qualidade acaba, inevitavelmente, por ser subjetivo. Ainda há dias uma pessoa amiga me falava de um Jardim de Infância que tinha sido frequentado por alunos que tiveram notas muito acima da média. Para mim, é muito rígido, não me identifico com o método que praticam - lá está, o que é bom para mim não é bom para os outros e vice-versa.
No entanto, considero que temos de olhar para a maioria dos modelos de escola que temos e analisar, criticamente, os resultados: existem estudos que apoiam metodologias ditas alternativas; existem escolas com metodologias alternativas com bons resultados e dinâmicas mais interessantes para os alunos; existem educadores/professores que acreditam nas "novas metodologias", mas têm medo da mudança; existem alternativas ao aluno assimilador de conteúdos debitados por um "superior hierárquico".
Tendencialmente a criança deve ter um papel ativo no seu processo de aprendizagem, deve contribuir para a construção do seu conhecimento, deve atribuir significado ao que aprende. As diferenças entre as crianças devem ser respeitadas: as diferenças devem ser motores e não travões do desenvolvimento. O professor deve ser um mediador, um guia, um orientador e não um mero transmissor (isto também deve ser frustrante para o professor).
Seria interessante que localmente/regionalmente existissem apresentações periódicas das escolas públicas que cada local/região dispõe: quais os métodos pedagógicos que defendem, qual a forma de funcionamento e organização, quais são as suas prioridades, os valores que defendem, as formas de relacionamento com as famílias, o que esperam dos pais/cuidadores, como é organizado o dia a dia dentro de cada sala e da escola, etc. Quando procuramos uma escola privada, temos acesso a informação que nos é barrada na escola pública. Isso incomoda-me. Conheço muita gente que inscreveu os filhos na escola pública sem sequer a conhecer.
Logisticamente é difícil organizar essas apresentações de que falas.
- Nem que seja uma página de facebook criada e gerida por cada escola. Vou mais longe, cada professor devia efetuar a sua própria apresentação. Se na escola mais próxima da minha casa existir uma professora que trabalha de acordo com o método de ensino tradicional/transmissivo e uma que trabalha com base no Movimento da Escola Moderna (MEM), porque é que não posso ter acesso a essa informação atempadamente (antes de o inscrever) e optar?
E se todos quiserem a mesma professora que tu?
- Se todos quiserem a mesma professora (o mesmo método), a escola tem o dever de se adaptar. Ou não? Os professores aceitam aprender/investigar/conhecer o novo método eleito pela maioria, com apoios adequados às suas dificuldades.
A escola não é uma organização estática, ocorrem mudanças todos os dias: num dia temos apenas alunos portugueses numa determinada turma, no outro estamos a receber refugiados, na semana seguinte uma criança com uma necessidade específica e por aí adiante. O que é que fazemos perante este cenário? Mantemos tudo igual? Talvez fosse um passo para uma escola mais democrática.
Achas que um professor com 50 anos de idade deve adaptar-se às novas metodologias?
- Não são novas, "nós" é que andamos a ignorá-las há décadas. E não há tantos professores mais velhos que se adaptaram às novas tecnologias?
O professor de 50 anos se não tiver capacidade para se adaptar ao novo modelo (cá está, todos temos as nossas limitações), pode ser um óptimo contador de histórias, pode ajudar na resolução de alguns problemas de matemática, pode organizar, com os alunos, a biblioteca, pode ir com eles para a rua... E, muito importante, pode aprender muito.
Imaginemos 2 turmas do 1º ciclo do Ensino Básico, cada uma com o seu professor titular: o professor da turma A adora realizar atividades ao ar livre e tem um gosto especial pela atividade física; o professor da turma B tem um jeito (quase) inato para as artes plásticas e a sua área preferida é a Língua Portuguesa. Deixamos cada um destes professores com a sua própria turma, transmitindo aos alunos o que mais gosta e dando menos ênfase à área que menos lhe agrada? Ou sugere-se à professora da turma A que oriente uma atividade ao ar livre para as duas turmas e à professora da turma B que oriente uma aula de Expressão Plástica? Ao optar por esta hipótese, alunos e professores ficam a ganhar: os alunos têm oportunidade de experimentar o melhor de cada professor; cada professor tem oportunidade de experimentar áreas em que não se sente tão à vontade.
Julgo que as escolas, desde que apoiadas, aceitariam mudar para práticas mais democráticas, mais justas e mais agradáveis para todos.
Continuo com dúvidas relativamente ao facto de defenderes a escola pública.
- Não defendo a escola pública como ela é atualmente na maioria dos casos. Defendo que precisamos de uma grande mudança. Sou pelo ensino com qualidade e oportunidade para todos. Sou pela igualdade, pela inclusão, pelo respeito.
Então, defendes a escola pública?
- Defendo e desejo que a escola pública mude rapidamente. Quero o meu filho numa escola pública.
Achas que, defendendo a igualdade de direitos, me agrada que só alguns tenham acesso a um ensino de qualidade, pagando?
Achas que podemos ir todos na cantiga de que, quer se opte pela privada ou pela pública, ter bons professores é uma questão de sorte? Na privada, no extremo, não estando satisfeita, solicito mudança de turma ou mudo de escola - é necessário bom senso nestas decisões, claro.
Não é suposto que isto seja um jogo - uns perdem outros ganham - ou é?
Não é suposto que isto seja um jogo - uns perdem outros ganham - ou é?
É mais fácil definir/alterar/controlar práticas no público ou no privado? E porquê?
Se encontrar uma escola pública com um Método Pedagógico que me agrade, achas que vou optar por uma privada? Mesmo que queira, o mais provável é não conseguir suportar financeiramente a frequência numa escola privada. Uma coisa é defender "metodologias alternativas" e priorizar coisas que muitos não priorizam, outra, totalmente diferente, é achar que o que tanto procuro só deve existir no ensino privado, acessível a poucos. Sei que o encontro mais facilmente no privado, mas o que eu desejo mesmo é encontrá-lo no público.
Ensinar não é uma receita, com ingredientes e quantidades específicos e insubstituíveis. Para o mesmo prato (assunto) a quantidade e variedade dos ingredientes pode mudar consoante o destinatário (alunos). O ensino deve ser adaptado às preferências, aptidões e necessidades de cada um.
Imagem retirada daqui
Isto é apenas uma mixórdia de ideias minhas; é um debate de ideias comigo mesma.
Este post poderia ter sido escrito por mim.
ResponderEliminarAinda bem que não sou um caso isolado. Quando falo sobre este assunto, a primeira interpretação das pessoas é que defendo o ensino privado, quando na verdade é precisamente o contrário: defendo o ensino público. Só não o defendo/aceito como ele é atualmente em muitas escolas. A título de curiosidade, liguei para uma escola pública (JI e 1º ciclo) da minha área de residência e perguntei se podia conhecer as instalações. A pessoa que atendeu o telefone nem percebeu o que é que eu queria (tal não é a raridade da solicitação); depois, disse-me que podia conhecer a escola no primeiro dia de aulas se a criança fosse, efetivamente, matriculada. E é isto: matriculamos os miúdos e depois logo se vê se gostamos. Confesso que a escolha do JI está a ser mais difícil do que pensava, mas lá chegarei. :)
EliminarEste é assunto que me frustra imenso...
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