A Associação Projecto Artémis quer fazer do dia 15 de Outubro o dia Nacional para a Sensibilização da Perda Gestacional. Foi precisamente no dia 15 de Outubro de 2012 que fiquei a saber que o coração do bebé sonho que trazia comigo parou.
Poucas semanas depois de me descobrir grávida pela primeira vez, deixei de ter vontade de escrever no diário que tinha iniciado. Os nomes de que gostava deixaram de me soar bem: apesar de estar no início da caminhada, já existiam nomes preferidos; de um momento para o outro nenhum destes nomes me fazia sentido. Elegendo um só nome de cada Género, Pedro e Helena eram os meus preferidos. O pai naquela altura ainda não tinha opinado muito sobre o tema, tínhamos tanto tempo para fazer listas de nomes e para decidir... Às vezes penso que era menina. Apesar de nenhum dos nomes me soar bem naquela altura, deixei de gostar do nome Helena (ainda antes de saber o desfecho da história), não o imaginava numa filha minha, ainda que temporariamente. Hoje, como antes, gosto muito do nome. Às vezes também penso que aquele bebé era menino: lembrei-me nesta altura (sabe-se lá porquê) de um boneco que a minha mãe me ofereceu quando eu já tinha 20 e tal anos, como que a apelar ao meu instinto maternal e a gritar desesperadamente que queria ser avó - até meias comprou para o boneco, talvez a Psicologia consiga explicar (eu não). Era um boneco com o tronco de pano, braços e pernas de borracha e rosto de porcelana, com um rosto de recém nascido muito realista. Inicialmente olhei para ela de lado, mas aceitei o boneco, passou a fazer parte da mobília lá de casa, comecei a gostar dele. Chamei-lhe Pedro - há muito que gosto deste nome. Um dia partiu-se, fiquei com pena, claro. Não era um boneco da minha infância, mas gostava dele como fosse.
Dias ou semanas depois de me dizerem que o coração do meu bebé tinha parado, lembrei-me desta história (não são situações comparáveis, claro; foi uma lembrança que fui buscar). Ao meu bebé eu nunca chamei Pedro. Naquele momento de tristeza, não sabia se a vida me daria oportunidade de ter um Pedro ou uma Helena, ou se já ma tinha tirado. Aquele bebé nunca foi a Helena nem o Pedro. Podia ter sido, mas não foi. Aquele bebé, apesar de não ter um nome, foi o meu primeiro bebé.
No dia 4 de Outubro, com 8 semanas de gestação, a médica não ouviu os batimentos cardíacos no ritmo que era suposto. O tempo de gestação real podia não ser este e ela pediu-nos para regressarmos à consulta dentro de 8/10 dias, aproximadamente. Saí da consulta com o ritmo cardíaco acelerado, com medo, mas com esperança. Desassossegada.
No dia 15 de Outubro confrontei-me com o facto de o coração do bebé ter, definitivamente, parado. Foi o arrancarem-me definitivamente o sonho e a felicidade de ter aquele bebé. Acho que foi o pior dia da minha vida. A médica que fez a ecografia a dizer que é normal acontecer. As lágrimas a cair apesar das tentativas de guardá-las só para mim; não queria aquelas lágrimas, não por aquele motivo. A espera para entrar na consulta e falar com a minha médica. A enfermeira a chamar-me mãe. Mãe de um vazio, mãe de uma mão cheia de nada, mãe de coisíssima nenhuma. Não era mãe, nem estava no caminho para sê-lo, muito pelo contrário: estava a fazer o caminho inverso contra a minha vontade, sem saber se algum dia viria a ser mãe. Mas sentia-me mãe. A revolta por um lado, a tristeza por outro.
Poucas semanas depois de me descobrir grávida pela primeira vez, deixei de ter vontade de escrever no diário que tinha iniciado. Os nomes de que gostava deixaram de me soar bem: apesar de estar no início da caminhada, já existiam nomes preferidos; de um momento para o outro nenhum destes nomes me fazia sentido. Elegendo um só nome de cada Género, Pedro e Helena eram os meus preferidos. O pai naquela altura ainda não tinha opinado muito sobre o tema, tínhamos tanto tempo para fazer listas de nomes e para decidir... Às vezes penso que era menina. Apesar de nenhum dos nomes me soar bem naquela altura, deixei de gostar do nome Helena (ainda antes de saber o desfecho da história), não o imaginava numa filha minha, ainda que temporariamente. Hoje, como antes, gosto muito do nome. Às vezes também penso que aquele bebé era menino: lembrei-me nesta altura (sabe-se lá porquê) de um boneco que a minha mãe me ofereceu quando eu já tinha 20 e tal anos, como que a apelar ao meu instinto maternal e a gritar desesperadamente que queria ser avó - até meias comprou para o boneco, talvez a Psicologia consiga explicar (eu não). Era um boneco com o tronco de pano, braços e pernas de borracha e rosto de porcelana, com um rosto de recém nascido muito realista. Inicialmente olhei para ela de lado, mas aceitei o boneco, passou a fazer parte da mobília lá de casa, comecei a gostar dele. Chamei-lhe Pedro - há muito que gosto deste nome. Um dia partiu-se, fiquei com pena, claro. Não era um boneco da minha infância, mas gostava dele como fosse.
Dias ou semanas depois de me dizerem que o coração do meu bebé tinha parado, lembrei-me desta história (não são situações comparáveis, claro; foi uma lembrança que fui buscar). Ao meu bebé eu nunca chamei Pedro. Naquele momento de tristeza, não sabia se a vida me daria oportunidade de ter um Pedro ou uma Helena, ou se já ma tinha tirado. Aquele bebé nunca foi a Helena nem o Pedro. Podia ter sido, mas não foi. Aquele bebé, apesar de não ter um nome, foi o meu primeiro bebé.
No dia 4 de Outubro, com 8 semanas de gestação, a médica não ouviu os batimentos cardíacos no ritmo que era suposto. O tempo de gestação real podia não ser este e ela pediu-nos para regressarmos à consulta dentro de 8/10 dias, aproximadamente. Saí da consulta com o ritmo cardíaco acelerado, com medo, mas com esperança. Desassossegada.
No dia 15 de Outubro confrontei-me com o facto de o coração do bebé ter, definitivamente, parado. Foi o arrancarem-me definitivamente o sonho e a felicidade de ter aquele bebé. Acho que foi o pior dia da minha vida. A médica que fez a ecografia a dizer que é normal acontecer. As lágrimas a cair apesar das tentativas de guardá-las só para mim; não queria aquelas lágrimas, não por aquele motivo. A espera para entrar na consulta e falar com a minha médica. A enfermeira a chamar-me mãe. Mãe de um vazio, mãe de uma mão cheia de nada, mãe de coisíssima nenhuma. Não era mãe, nem estava no caminho para sê-lo, muito pelo contrário: estava a fazer o caminho inverso contra a minha vontade, sem saber se algum dia viria a ser mãe. Mas sentia-me mãe. A revolta por um lado, a tristeza por outro.
Num
dia sentia vida, luz, felicidade e esperança dentro de mim. No outro, não sentia nada. Com a agravante do corpo não expulsar o que tanto desejara e ter de ser eu a decidir como o iria fazer. Dia 20 de Outubro, o derradeiro dia e o que mais me custou. Fui eu que decidi tomar a medicação, fui eu que fiz o que o meu corpo recusou fazer. O contar às pessoas que não estava grávida. A culpa por ter engravidado tarde. O medo de não conseguir voltar a fazê-lo. O desejo de ter um bebé, ter um bebé naquele momento. O choro que me acompanhou muitos dias. A tristeza que eu nem tentei disfarçar. A fragilidade. A espera pelo sinal do corpo. As idas ao médico. A luz verde para engravidar. O não ter engravidado no primeiro mês. O não ter engravidado no segundo mês. O teste positivo no terceiro mês. A alegria e o medo de mãos dadas a conviver como se se completassem. O contar a algumas pessoas que estava novamente grávida - a duas delas escrevi várias mensagens em folhas A4, na última lia-se que eu estava grávida. A emoção por tudo e por nada. A fé de que tudo correria bem. O vomitar nos primeiros seis meses de gravidez. Os enjoos durante toda a gravidez. O não gostar de estar grávida nos primeiros meses. O desejar não estar grávida. A culpa por sentir isto. O estado de graça que chegou no sexto mês. A alegria de ter o meu filho. O amor e a felicidade por ele nascer. Nascer de mim e para mim. Perdi um bebé imaginado nos mais doces sonhos no dia 15 de Outubro de 2012. Ganhei um bebé de sonho no dia 27 de Setembro de 2013, um bebé que tem um nome composto, do qual Pedro faz parte. Habitualmente não o chamamos de Pedro, mas ele é Pedro porque a vida me deu esta oportunidade. É o "meu Pedro" e ao contrário do esperado, já que toda a gente o conhece pelo segundo nome, este é o seu primeiro nome. Porque Pedro nasceu em mim antes de qualquer outro nome.
São momentos difíceis, são marcas que ficam, são sonhos que se desfazem. Sei que a minha história não é das mais dolorosas. Nessa altura descobri histórias reais de pessoas que tentaram engravidar anos e anos sem sucesso. Pessoas que depois de tantas tentativas, engravidaram para logo depois perderam os seus bebés sonho. Uma vez, duas vezes, três vezes. Que dor. Que impotência. É uma realidade, existe, acontece mais vezes do que pensamos. Sensibilizar também é preparar para a intervenção. Assinei esta Petição.
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